A SAÍDA PARA A FEMINILIDADE É APENAS A MATERNIDADE?



Não só a psicanálise, mas a humanidade de modo geral sempre demonstrou no decorrer de sua existência grande interesse no universo feminino.

Freud, considerado o pai da psicanálise, não foi o primeiro e nem o último a apontar a mulher como um enigma e a partir desse interesse foi possível surgir diversos estudos e investigações sobre o tema feminilidade.

Foi-se o tempo que determinados atributos serviam para denominar mulher ou homem: “O homem trabalha, a mulher cozinha”, “aos machos o dinheiro, às fêmeas a maternidade”, entre outras, se ainda não deixaram de serem pontuações verdadeiras, ao menos foram bem amenizadas em sua existência social e subjetiva (sim, ainda temos muito que evoluir, mas sejamos esperançosos!).

Às voltas disso, a partir de algumas leituras específicas de Freud (“Sexualidade Feminina” - 1931 e “Feminilidade” - 1933) me deparei com algumas questões que me impactaram bastante e que me fizeram mergulhar um pouco mais nessa temática.

De forma bem resumida, evitando me alongar e entrando o menos possível na teoria, nesses textos ele tenta entender a feminilidade em paralelo à masculinidade, mas avançando em suas investigações percebe que não é bem assim e que a questão é muito mais complexa do que ele pensa.

Em certo ponto ele chega a três possíveis “saídas” para a mulher, a partir de seu complexo de Édipo, são elas:

  • Inibição da Sexualidade (frigidez);
  • Masculinidade (homossexualidade);
  • Atitude Feminina Normal (maternidade);
A partir disso confesso que de início fiquei bem incomodada, “como assim, a única saída “normal” seria a maternidade? E se eu não quiser ser mãe? Não sou normal ou não atingirei a feminilidade?”, claro, que depois de avançar nos meus estudos fui tendo outra visão disso, Freud avançou em outros textos em anos seguintes e outros teóricos foram complementando questões importantes sobre o tema, sem contar que sempre temos que levar em consideração a época que ele vivia, que apesar de ser alguém muito à frente de seu tempo era um homem que vivia em uma sociedade extremamente machista e patriarcal, naqueles tempos as mulheres pouco passeavam pela cultura e a maternidade talvez fosse a única saída a ser pensada.
No entanto, com os avanços e espaços que as mulheres foram ocupando na sociedade (com muita luta e ainda luta!), podemos entender que hoje em dia existem diversas outras saídas que elas podem encontrar para a feminilidade. O trabalho e o reconhecimento social, por exemplo, são algumas das opções, podendo ser considerados substitutos fálicos e não apenas um bebê (embora possa ser, mas também e não somente!).
As mulheres são únicas e só podem ser contadas uma a uma, por isso que Lacan (1964) pontua, de forma provocativa, “A mulher não existe!”, apontando para não existência de uma universalidade, regra ou imposição que dite o que é uma mulher, existe “AS MULHERES”, com suas subjetividades e singularidades, que cada uma, à sua própria maneira, vai trilhar e escolher seu caminho, em busca de sua própria feminilidade!



Aline Carneiro Silva
Psicóloga - CRP (06/133070), supervisora clínica e preceptora de estágio na Universidade Anhanguera - Sto. André.
Pós em Fundamentos da Psicanálise e sua Prática Clínica pelo Instituto Sedes Sapientiae. Coordenadora da RECLEA - Rede Clínica de Estudo e Atendimento em Psicanálise. Membro da rede de atendimento clínico na PsicoVida - Clínica de Psicologia. Atuante na clínica psicanalítica no atendimento com adolescentes e adultos.

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